quinta-feira, 3 de junho de 2010

O CINECLUBISMO E A DISTRIBUIÇÃO AUDIOVISUAL



O CINECLUBISMO E A DISTRIBUIÇÃO AUDIOVISUAL

Luiz Felipe C. Mundim*


O cineclubismo brasileiro tem como data de nascimento, por convenção, a fundação do Chaplin Club em 13 de junho de 1928. Em Goiás, essa história remete à década de 1970 com o conhecido Cineclube Antônio das Mortes. Após 82 anos o movimento cineclubista tem se revigorado e se fortalecido diariamente, com o surgimento de cineclubes por todo o Brasil e especialmente no estado de Goiás.
Importante destacar que se denomina enquanto movimento social e cultural porque luta pelos direitos do público, porque se move e dá ação ao público do cinema e das obras audiovisuais, com o objetivo de transformar a realidade. A possibilidade de transformação vem por meio da fruição, que é o acesso, o debate, a reflexão aberta e livre das obras audiovisuais. Só uma fruição plena das obras audiovisuais pelo público é que se torna possível que um povo possa se apropriar e se expressar através da linguagem audiovisual. E por público entende-se que somos todos nós, de diretores de filmes a crianças que experimentam o mundo mágico do cinema pela primeira vez. Sendo o público a base de toda a cadeia audiovisual, é nele que se resolvem as questões elementares relacionadas à política, cultura e sociedade.
Nesses termos, atualmente a luta do movimento cineclubista se volta à proposição de um novo modelo de distribuição e exibição dos bens audiovisuais no Brasil. A ênfase é garantir o acesso da população – principalmente as mais carentes e distantes dos grandes centros – aos filmes produzidos que não são distribuídos comercialmente, em especial as obras brasileiras. Mesmo que fossem comercializadas, as salas de cinema comercial hoje em dia cobrem um território muito restrito da realidade de número de municípios brasileiros. Existem pouco mais de duas mil salas de cinema, concentradas nos grandes centros urbanos e Shoppings Center, para quase cinco mil e seiscentos municípios no Brasil.
Com a retomada do cinema no Brasil, a questão da produção se resolveu em grande parte através das leis de incentivo, porém, a questão da distribuição e exibição ainda carece por resolução ampla e espelha a distância da população em relação aos cinemas e obras audiovisuais brasileiras. Obras essas que, em sua grande maioria, são produzidas lançando mão de mecanismos de financiamento público.
Nesse panorama é que se reafirma a atualidade e urgência da militância pelos direitos do público. Como exemplo dessa militância destaca-se, por exemplo, a luta permanente do cineclubismo nos últimos anos pela reforma da legislação vigente sobre os Direitos Autorais. A atual lei do Direito Autoral não contempla o circuito não comercial, e em determinados termos até criminaliza a atividade cineclubista, o que de maneira alguma condiz com a realidade e mesmo com leis e tratados internacionais que ressaltam o direito de todo ser humano ter acesso livre aos bens culturais.
Assim, o movimento cineclubista brasileiro através do Conselho Nacional de Cineclubes também contribuiu com a elaboração do texto do anteprojeto da nova lei do Direito Autoral que em breve estará disponível para consulta pública, onde os cineclubes aparecem em tema separado, e que a eles é garantido o direito livre de exibição. Tal direito se dá, necessário esclarecer, por se tratar de atividade sem finalidade comercial e que contribui para o cumprimento dos direitos básicos constitucionais, que prevêem o acesso à cultura.
Ao mesmo tempo, faz-se necessário que os cineclubes ajam em conjunto, estejam irmanados, e possam formar redes estáveis e sustentáveis de exibição e distribuição em cada estado. A partir dessas redes é que sairão novas demandas nacionais para as lutas pelos direitos do público.
O cineclubismo em Goiás, nesse sentido, tem tido função protagonista nacionalmente por meio das atividades dos cineclubes que aqui surgem e que, neste momento, se articulam e formam o “Circuito Cineclubista de Goiás”.
O objetivo da criação de um circuito cineclubista é o objetivo do movimento cineclubista mundial: democratizar o acesso aos bens audiovisuais. A partir disso, surgem as ideias regionais, locais para conformar e fortalecer uma rede estável de cineclubes em cada lugar. Volta-se, assim, à prática política dos cineclubes para uma articulação aberta entre eles mesmos, buscando a criação de um circuito de exibição não-comercial, ou seja, de um circuito cineclubista que dê a unidade da atividade em Goiás.
Este processo, na medida em que possibilita troca de experiências entre os cineclubes, fortalece o planejamento e divulgação de cada cineclube, cria os meios para potencializar a sustentabilidade de cada cineclube e para, consequentemente, garantir o direito do público de ter acesso aos filmes de maneira regular, livre e aberta.
Assim, além desses objetivos, está vinculado diretamente o objetivo fundamental de distribuir os filmes goianos, que não encontram outra janela de exibição a não ser em festivais, que contribuem em muito com a cadeia produtiva audiovisual, mas, que sozinhos não podem resolver o problema do acesso e da distribuição. Esta resolução, possivelmente, se encontrará na ampliação das ações, ou seja, no crescimento e na regularidade do circuito não comercial de exibição.


Publicado no Diário da Manhã - 31 de maio de 2010, Editoria Opinião, p. 6.

*Luiz Felipe C. Mundim é mestre em História, Diretor Regional de Goiás pelo Conselho Nacional de Cineclubes e um dos organizadores do Cineclube Cascavel. Contato: luizmundim@gmail.com

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