Já falamos aqui do quanto o Cineclube Cascavel deve de seu nome ao amigo e abedista Luiz Elias. Vez ou outra falamos de pessoas, realizadores e instituições que são importantes para o Cineclube Cascavel e para o cineclubismo no Brasil e em Goiás, como é o caso da ABD-GO, da Cara Vídeo, do Conselho Nacional de Cineclubes, do Cine Mais Cultura, etc, etc. Por algum infortúnio, ainda não havíamos falado sobre um sujeito em especial nesse cenário cineclubista e cinematográfico local e nacional: Beto Leão, que acaba de nos deixar no último dia 19.
Tomo a liberdade de escrever esta mensagem na primeira pessoa, pois não vejo outra forma e nem outro lugar para falar do Beto, se não a partir de minha experiência ao lado dele e, por conseguinte, no papel que ele teve na formulação das atividades do Cineclube Cascavel.
Sem qualquer pretensão, e com o mínimo de demagogia que me for possível, gostaria de lembrar que quando lançaram o edital “Ponto de Difusão Digital” em 2006 no MinC, originário da ação Cine Mais Cultura de hoje e da qual o Cineclube Cascavel faz parte com mais 80 pontos contemplados naquele edital, nosso querido Beto Leão foi quem animou, organizou e, com a ajuda de alguns abnegados abedistas e cineclubistas àquela época, inscreveu projeto pela ABD-GO que foi aprovado para receber o kit de exibição.
A partir disso que passei a me inteirar mais sobre o projeto, sobre o que poderíamos fazer com aquele equipamento e, aos poucos, sobre o que é cineclubismo. Ainda me causa espanto o quanto de confiança Beto Leão depositava em mim e na perspectiva que queríamos dar ao projeto, que viria a se tornar o Cineclube Cascavel.
Já foi dito certa vez, que Beto andava cansado, até desesperançoso com a falta de compromisso social e político de quem vinha chegando ao cinema brasileiro. Pude testemunhar e conviver com esse cansaço, com essa angústia, há quase um ano, quando fomos juntos à Belo Horizonte, ocasião dos primeiros passos da retomada da ação Cine Mais e que daria início a minha entrada de vez no cineclubismo.
Pude perceber, com o tempo, que o cineclubismo tinha esse lugar especial na vida de Beto porque a luta do movimento em muito se assemelhava à sua própria luta contra o sofrimento e contra tantas coisas ruins na vida. Beto sabia que o público é o motivo da arte cinematográfica, e que cabia aos cineclubes lutar pelos direitos do público de ter acesso, de compartilhar, de produzir e de ter cultura cinematográfica própria e livre.
Para além do cineclubismo arrisco dizer: Beto Leão se fez o próprio sujeito transindividual do cinema em Goiânia enquanto esteve atuante, na falta de um coletivo que assumisse plenamente esta função. Suportou este fardo o quanto pôde.
Vejam vocês, numa terra de tanto provincianismo, de tanta mesquinharia, de tanta infelicidade e pobreza política, social e cultural, não há outra forma de se enfrentar a vida que não querendo tudo ao contrário, procurando na angústia uma energia humana qualquer que indique alguma luz. Assim foi o cenário cinematográfico que Beto Leão encontrou, e que ousou enfrentar, dando sua contribuição gigante. Assim era sua dedicação, que não cessou, ao cineclubismo em Goiás, e assim sentimos o bastão sendo passado ao Cineclube Cascavel.
Parabéns e obrigado, Beto Leão.
Luiz Felipe C. Mundim
Cineclube Cascavel
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