domingo, 27 de novembro de 2011

Sessão dia 29 de Novembro – O Bandido da Luz Vermelha de Rogério Sganzerla | 20h | ENTRADA FRANCA


O Bandido da Luz Vermelha

e A Vermelha Luz do Bandido



ENTRADA FRANCA
Terça-feira, 29 de novembro de 2011, às 20h
Centro Cultural Cara Vídeo, rua 83, n. 361, St. Sul

“1 – Meu filme é um far-west sobre o III Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um filme-soma; um far-west mas também musical, documentário, policial, comédia (ou chanchada?) e ficção científica. Do documentário, a sinceridade (Rossellini); do policial, a violência (Fuller); da comédia, o ritmo anárquico (Sennett, Keaton); do western, a simplificação brutal dos conflitos (Mann). 2 – O Bandido da Luz Vermelha persegue, ele, a polícia enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas, meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade. Quando um personagem não pode fazer nada, ele avacalha. (…) Porque o que eu queira mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste cujos personagens fossem sublimes e boçais, onde a estupidez – acima de tudo – revelasse as leis secretas da alma e do corpo subdesenvolvido. Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante, ameaçada por um criminoso solitário. Quis dar esse salto porque entendi que tinha que filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido. Meus personagens são, todos eles, inutilmente boçais – aliás como 80% do cinema brasileiro”
Manifesto de Rogério Sganzerla

O Cineclube Cascavel apresenta na próxima terça-feira, dia 29 de novembro às 20h, o filme O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, seguido do curta-metragem A Vermelha Luz do Bandido, de Pedro Jorge.
Rogério Sganzerla nasceu em Joaçaba (SC) em 1946, e na década de 60 começou a escrever sobre cinema no Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo. Realizou seu primeiro curta-metragem, intitulado “Documentário”, em 1967. “Em 1968, com seu primeiro e mais famoso longa-metragem, “O Bandido da Luz Vermelha”, Rogério Sganzerla causou impacto no cinema nacional inaugurando o movimento do Cinema Marginal, originado do bairro boêmio e violento do centro paulistano conhecido como A Boca do Lixo. Este movimento, que contava com outros cineastas jovens como Júlio Bressane, Carlos Reichenbach, José Mojica Marins, Andrea Tonacci e Ozualdo Candeias, trazia o uso da linguagem experimental pela colagem de elementos da cultura de massa, a produção independente, a irreverência e o cinismo sobre o projeto político de uma esquerda elitista.”
Considerado um dos maiores clássicos do cinema brasileiro, “O Bandido da Luz Vermelha” se inspirou na história de João Acácio Pereira da Costa (curiosamente também catarinense, nascido em Joinville), o bandido que ganhou destaque por seus feitos, dentre os quais o estupro de cerca de 50 mulheres na década de 60, e que foi cunhado pela imprensa com o nome que deu título ao filme. “Contudo, o filme não é um retrato específico deste criminoso, mas sim um ensaio formal sobre a condição absurda do Brasil. Definido como um “faroeste do terceiro mundo” o filme se constrói numa colagem referências da cultura erudita e popular, como o filme Pierrot le fou (1964), de Jean-Luc Godard, história em quadrinhos, narração radiofônica e música erudita.

O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, filme emblemático do chamado Cinema Marginal, será exibido terça-feira dia 29 no Cineclube Cascavel
 
            O Bandido da Luz Vermelha” é a expressão cinematográfica da Estética do Lixo, idéia de Sganzerla que contrariava a Estética da Fome de Glauber Rocha. A Estética da Fome foi o manifesto do Cinema Novo e via na precariedade e fome do terceiro mundo sua força e originalidade, e na violência sua manifestação mais nobre e maneira de superar a estrutura que cria esta condição de subdesenvolvimento. Já a Estética do Lixo, numa visão mais cínica, sem inocência na sua relação com a cultura de massa e desacreditada de projetos utópicos (reflexo do golpe militar de 64), trabalha com as sobras estéticas, os lixos, de uma cultura capitalista do primeiro mundo, fazendo disso sua expressão. ”
“Sganzerla faz um cinema totalmente descompromissado com a construção tradicional da narrativa e a consensual coerência; uma grande teia de referências e críticas, onde sociedade e cinema são mastigados e cuspidos na tela com um virtuosismo absurdo (paradoxal, até) que fazem de O Bandido da Luz Vermelha, definitivamente, um dos maiores representantes do dito ‘Cinema Transgressor’.
Do ponto da cinematografia, o Bandido redefine praticamente todos os moldes estéticos e de narrativa até então, nos guiando por recortes de um jornal sensacionalista e uma narração radiofônica. Sai também a verossimilhança aparente da linearidade e da cronologia medida à régua e entra a criatividade radical e sem arreios da marginalidade. É um novo tipo de cinema que larga a beleza da crítica do lirismo e a substitui pelo deboche. O cinema do Bandido quebra as limitações do Cinema Novo, abandonando seus temas habituais, como a fome, seca, miséria e classes, todos a nível de Brasil, mas com um pezinho nas fórmulas do cinema de fora, e parte rumo ao mundo, à cultura, política, liberdade (e libertinagem), à quebra de purismos, já com os olhos ao que seria feito daqui. O que antes era uma exposição de idéias, agora é um confrontamento de situação-possibilidades, tudo por meio do cinema. E este cinema, para Sganzerla, era mais que ‘panfleto’: uma rede intrincada e complexa de arte, classes sociais, política, vida.”
“Com uma linguagem rica, montagem criativa e de atração, e artifícios artísticos para retratar cenas de um povo oprimido pelo sistema de uma forma a revolucionar o modelo de arte no Brasil, Sganzerla expõe seus ideais em sua experiência cinematográfica de modo a transmitir a situação da população brasileira e alguns dos seus vários problemas, ilustrados em um personagem perturbado, corrompido e influenciado por esse sistema igualmente perturbado e corrompido.”
Pedro Jorge estreou no cinema com o curta "Crônica de uma Imagem Musicada" (2007). Ele assistiu pela primeira vez, em 2002, aos 19 anos de idade, “O Bandido da Luz Vermelha”, e ficou tão impressionado que sete anos mais tarde realizou um documentário experimental sobre o longa, “A Vermelha Luz do Bandido”, fazendo um diálogo entre o passado e o presente do cinema brasileiro. “O curta começou como projeto de iniciação científica do diretor, ainda na faculdade. Abandonado, só foi retomado anos mais tarde, como projeto de conclusão de curso.
Para resgatar essa memória do cinema nacional, Pedro Jorge entrevistou diversos profissionais envolvidos direta ou indiretamente com o filme de Sganzerla. O curta também conta com depoimento crítico de Jean-Claude Bernardet, que teve a oportunidade de presenciar o impacto do filme na época do lançamento.” Sua voz em cena pede que o realizador questione os motivos do seu fascínio com o filme.

Trecho do documentário A vermelha luz do bandido, de Pedro Jorge
 
Embora haja no curta a recusa às cabeças que falam como imagem, não há a mesma recusa às “vozes do saber” como dado formal – o que, mesmo que passado para o campo do som, em deslocamento de imagem, coloca o filme num registro de informação ainda conservador por mais que se tente recusar isso com a mescla em cena com a presença de personagens ficcionais-performáticos. Pedro Jorge estabelece uma relação de apropriação com o filme original de Sganzerla, recriando artifícios de linguagem deste (seja com deslocamentos ou pela pura cópia). “E aí não deixa de haver uma certa traição ao espírito sganzerliano, a partir do momento em que a “avacalhação” do curta é sempre muito comportada; ou por outra, muito conformada em tomar o Bandido como um horizonte quase sempre absoluto. Com isso tudo, a verdade é que um real sentido de anarquia ou contestação não tem muito lugar no filme, que acaba tendo com relação à obra original a mesma distância que podemos entrever entre as figuras artísticas e públicas dos escolhidos para ser o “bandido” de cada trabalho: Paulo Villaça lá; Seu Jorge aqui. A Vermelha Luz do Bandido acaba sendo, não importando a dedicada paixão do seu realizador pelo filme de Sganzerla (ou principalmente por causa dela), uma inversão com relação à obra original da mesma ordem que as palavras no título do curta indicam.” 
 
Release com trechos adaptados dos textos de Filipe Doranti, de Luiz Carlos Freitas, do Cineclube Rogério Sganzerla, do Manifesto de Rogério Sganzerla, "Cinema fora da lei", de Eduardo Valente e de Alysson Oliveira,  nos sites:

PROGRAMAÇÃO
DIA 29/11 – O Bandido da Luz Vermelha e A Vermelha Luz do Bandido
Terça-Feira, 20h

O Bandido da Luz Vermelha | Rogério Sganzerla, Ficção, São Paulo, 1968, 92 minutos.

Elenco: Paulo Villaça. Helena Ignez, Ítala Nandi, Sônia Braga, Renato Consorte, Sergio Mamberti.  
Sinopse: “Um assaltante misterioso usa técnicas extravagantes para roubar casas luxuosas de São Paulo. Ele é apelidado pela imprensa de "bandido da luz vermelha", já que traz sempre uma lanterna vermelha e conversa longamente com suas vítimas. Em agosto de 1967, Luz Vermelha é preso em Curitiba.”

Trailer e Resenha: http://www.punkbrega.com.br/2008/01/o-bandido-da-luz-vermelha-rogerio-sganzerla-1969/


A Vermelha Luz do Bandido | Pedro Jorge, Documentário, São Paulo, 2009, 16 minutos.

Elenco: Seu Jorge, Brian Penido Ross, Mariana Jorge, Renato Jakaré & Orson Welles.
Sinopse: “Documentário-Radialístico-Científico-Experimental de Cinema que busca o tributo ao filme, "O Bandido da Luz Vermelha" de Rogério Sganzerla, além de discutir sobre a indústria cinematográfica brasileira.”

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=JrIXxSFg0qg


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Terça-feira, 29 de novembro de 2011, às 20h
Centro Cultural Cara Vídeo, rua 83, n. 361, St. Sul (EM FRENTE À PAMONHA PURA)
Debate com o público após a sessão
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA:  14 anos

Realização – ABD-GO
Parceria – CARAVÍDEO
Apoio - ABD Nacional, Conselho Nacional de Cineclubes, Cine Mais Cultura, Secretaria do Audiovisual/MinC
Siga no twitter: @cinecascavel

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